sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Congresso debateu sustentabilidade das cooperativas brasileiras


As 7,3 mil cooperativas brasileiras, além de delegações paraguaias, argentinas e colombianas, estiveram representadas, de 9 a 11 de setembro, no XIII Congresso Brasileiro do Cooperativismo, na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio (CNTC), em Brasília, para debater sustentabilidade e inovação. Entre as lideranças presentes na solenidade de abertura, destaque para o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas; o presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) das Américas, o mexicano Ramón Imperial; e o presidente da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), deputado federal Odacir Zonta. O coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues, também ex-ministro da Agricultura e ex-presidente da OCB e da ACI, foi homenageado por sua destacada contribuição em prol do cooperativismo. A comitiva gaúcha esteve composta por 70 pessoas.

Maturidade

Em sua saudação, Márcio de Freitas assinalou que a OCB acatou às 1.083 proposições encaminhadas pelo sistema, transformando-as em 27 – o mesmo número de Estados brasileiros –, as quais foram apreciadas e votadas democraticamente durante o congresso. “É um momento de maturidade para avaliar estes anseios. Precisamos inovar com ousadia”, afirmou, destacando que, em 2009, as cooperativas brasileiras movimentaram 88,5 bilhões de dólares, dos quais, quatro bilhões foram exportados. “Temos tudo para plantar o futuro que queremos colher lá na frente”, enalteceu.

 Êxito

Ramón Imperial disse que, entre os países da América, o Brasil tem um cooperativismo desenvolvido e exitoso. “Em 2012, teremos o Ano Internacional do Cooperativismo, para também difundir os benefícios que o sistema leva a diferentes povos”, relatou, sublinhando a necessidade de haver uma gestão cada vez mais qualificada para o sistema.

 Destino

Odacir Zonta frisou que os cerca de 800 delegados e observadores do congresso estão entre os principais responsáveis por conduzir o destino do cooperativismo no Brasil. “Se o País vive uma grande expectativa de expansão e integração, reconhecemos no cooperativismo um esteio que não pode ser ignorado. O governo deve entender que as cooperativas não querem ser monitoradas, e sim apoiadas em todos seus segmentos”, advertiu o parlamentar.

 Bases do futuro

“Quem não sabe de onde vem, não sabe para onde vai”, alertou Roberto Rodrigues. Por duas vezes ex-presidente da OCB - em 1985 e 1991, Rodrigues também contabiliza em seu currículo o fato de, até agora, ter sido o único presidente não europeu da ACI. Ao longo de sua vasta experiência cooperativista, comenta que vê o sistema como essencial para estabelecer as bases do futuro. “Com o cooperativismo brasileiro, vi o que há de mais lindo nesta vida”, filosofou.

 Eficácia produtiva

O economista e ex-ministro da Fazenda e da Agricultura, Delfim Netto, foi o primeiro conferencista. Netto falou sobre o cenário econômico e político do País, ressaltando a necessidade de eficácia produtiva e liberdade individual. “O Estado deve ser eficiente e indutor, conduzindo o crescimento do mercado. Deve ser também controlado quantitativa e qualitativamente no que tange às despesas públicas”, assinalou.

O ex-ministro apresentou características de um dos principais concorrentes do Brasil no cenário mundial. “A China tem a burocracia mais eficiente do mundo, tendo criado a Universidade Imperial, o concurso público e a profissionalização, em 124 anos antes de Cristo”, relatou. Ainda segundo Delfim Netto, o Brasil tem hoje a renda per capita que os Estados Unidos tinham em 1930. “Por isso, ainda temos um longo caminho a percorrer”, acrescentou.

 Mudança e transformação

A segunda conferência, sobre mudança e transformação, foi ministrada pelo professor-titular do Programa de Pós-Graduação da PUC-SP, Mario Sergio Cortella. O palestrante apresentou uma série de reflexões sobre como as empresas devem se comportar no mercado acirrado do mundo contemporâneo. Segundo Cortella, não se pode confundir idoso com velho, pois a pessoa pode ser velha aos 30 anos de idade. “Novo é aquilo que revoluciona e permanece no tempo. Gente que não tem dúvida não cresce, só repete. Se não temos dúvidas, estamos mal-informados. É no que não sabemos que nos renovamos. Gente grande de verdade sabe que é pequeno e,  por isso,  cresce. Humildade é o caminho da sustentabilidade”, elencou. “O cooperativismo deve criar novas tendências e preparar-se para os novos tempos com novas atitudes”, sinalizou.

 Competitividade

A competitividade das cooperativas de pequeno porte foi mencionada pelas lideranças. O presidente da OCB diz que é preciso criar mecanismos de fortalecimento da organização específica de cada ramo. “Precisamos fortalecer nosso papel político e institucional para influir melhor nas decisões públicas que afetam o cooperativismo. A aglutinação de cooperativas do mesmo ramo é uma tendência que precisamos aprimorar”, ponderou Márcio de Freitas.

O presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs), Vergilio Frederico Perius, sugere a centralização de cooperativas por região. “Se o preço final de duas cooperativas é o mesmo, então é possível trabalhar e vender a produção em conjunto, ir para os grandes mercados e ter escala. Uma cooperativa que está mais robusta pode estender a mão para aquela que precise de apoio. Não dá para abandonar a integração, que é o espírito da coisa”, salienta.

 Mais liberdade

A pedido da Ocergs, o presidente da Certel, Egon Édio Hoerlle, integrou a reunião temática que debateu a influência das agências reguladoras, como a Aneel, Anvisa e ANS. “Nossa preocupação é de que as agências, às vezes, extrapolam as suas atividades normatizadas no que tange à fiscalização das cooperativas. Isso pode entravar o desempenho do sistema. Queremos trabalhar com mais liberdade, até porque a Lei Cooperativista não permite a intervenção governamental”, afirma.

Hoerlle destaca os problemas que esta excessiva fiscalização gera. “Muitas cooperativas de eletrificação do Nordeste não estão mais conseguindo atuar porque a Aneel determina que sejam encampadas pelas concessionárias. Tememos que as pequenas cooperativas, que foram criadas pelas comunidades, sejam extintas”, argumenta.

 Defensor do cooperativismo

O produtor rural Geraldo Cousseau, de Linha Torino Alto, Carlos Barbosa, associado às cooperativas Certel, Sicredi e Santa Clara, também participou do congresso. “Como conselheiro de administração da Sicredi, acompanho esses eventos para melhorar meus conhecimentos. Sempre fui um defensor do cooperativismo”, orgulha-se. “Com a energia elétrica da Certel, somada à assistência técnica exemplar da Santa Clara e aos financiamentos da Sicredi, tenho condições de progredir no setor primário”, complementa Cousseau, que produz mensalmente uma média de 31 mil litros de leite.

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